quarta-feira, abril 20, 2005

2046


Há filmes que se extinguem e se esquecem, há filmes que se alcançam. E existem outros, como 2046, que me fazem adquirir mais vida, mais desejo pela vida. Ocorrem à vista os planos impelidos propositadamente aos detalhes e às coisas esquecidas, como o esvoaçar de pés, dentro de sapatos pretos, a delimitarem no soalho as palavras vindas de cima, a suspensão angelical do bico da caneta sobre o papel, perpetuando o ritmo delirante das ideias, o baile das cores quentes, a presença massiva de sensualidade e de vultos no ritmo perfeito. A mesma exiguidade entre os corpos e a mesma intimidade dos espaços que In the mood for love. É um filme em forma de arte, que grita talento em cada plano, em cada pausa entre as vozes e entre os rostos que se observam. E depois, a servir de amplificação ao filme, há ainda a música. Que se mistura no cenário e nas roupas, que escorrega delas até à sombra, que é o som de uma porta que fecha, que é a aspereza de muitas vozes entrançadas no fumo que ondula perto do tecto, que é aquele lugar invisível entre uma pergunta e uma resposta. No final, quando me acontecer o alude abrupto de imagens de vida, estas vão lá estar

1 comentário:

Anónimo disse...

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