sábado, abril 09, 2005

Mar Adentro, tantas vezes eu quis


Não sei se o teu coração também se encolheu e depois expandiu quase ao fundo do mundo, como o meu, após teres visto Mar Adentro. Enquanto esperava que o Metro chegasse, tentei construir frases que expressassem correctamente o avesso da minha pele. A onda densa e secreta que sinto por dentro e toma conta de mim quando o que vejo, o que ouço, o que cheiro, o que tacteio, é admirável. Não sei se, tal como eu durante o filme, ficaste sozinha, sem cabeças à tua frente, sem cadeiras ou escuridão, sem paredes e sem portas e perdeste a noção do tempo, do espaço e do palpitar do teu peito nesse espaço e nesse tempo. Queria perguntar-te, agora, ignorando as ruas, os prédios, as planícies, as encostas, os vales, as montanhas que nos apartam, se o tivesses visto ao meu lado nos teríamos encontrado e contemplado o sorriso um do outro, plenamente repletos de vida, e de morte. Não sei se o teu rosto se contraiu, não sei se os teus olhos se aguaram, não sei se durante Mar Adentro te sentiste pequena e grande, te imaginaste a olhar o espelho e viste, precisamente como eu, dois espectros, duas formas de luz, vizinhas como dois grãos de areia numa praia e, no entanto, impossibilitadas de se tocarem, de se acariciarem, nem que fosse por um momento. A vida e a morte.

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