Como quem aguarda, deitado num banco envelhecido na estação de comboios, como quem lê um livro de pernas cruzadas na relva, como quem trinca uma maça enquanto ao lado a paisagem corre e a estrada corre e os ocres das paredes e as vinhas bem formadas nas encostas mancham o olhar, como quem, sentado numa cadeira, de pernas estendidas, ouve a rega e ouve a sua frescura pelo pátio adentro, eu aguardo, eu leio, eu mordo-me de curiosidade, eu escuto o amanhã. A fingir-me ausente, a captar com voluptuosidade o ancorar das cores nos meus olhos, do negro sobre o branco sobre o caprichoso cinza, a prestar atenção ao que dizem, a decorar com afinco a sua certeza e a sua energia. Fico, assim, em forma de desmaio interrompido, à espera que aquela névoa venha cair em cima da sombra e a transforme num sibilo semelhante ao que as lembranças fazem quando as vamos buscar ao fundo do corpo. Como quem ignora um sítio, as suas imperfeições e os seus humores, como quem tapa os ouvidos, se desprende do ruído circundante e prepara a pele para recolher a quantidade certa de luz.
E eu queria que isso durasse muitas horas, muitas viagens, muito tempo.
Coloco esta mensagem no sítio de uma instituição bancária mas presumo que ninguém a vá ler, uma vez que a colocação da mesma não lhes oferece nenhum retorno financeiro, mas não resisto em mostrar aqui o meu lamento, em jeito de grito de revolta. É ultrajante a cobrança pela visualização de cheques, disponibilizada por algumas instituições bancárias, através dos seus onerosos websites. Já não basta pagarmos uma enormidade de taxas, impostos, tributos, percentagens e outros métodos obscuros do género por todos os serviços inerentes à conta e à emissão dos ditos cheques e ainda temos que pagar um euro e meio se os quisermos visualizar on-line. Cheques que são, com quase toda a certeza, facilmente digitalizados e colocados no sistema para consulta.
Não, há que sugar até ao tutano o pobre trabalhador. Há que tornear a moralidade e extrair ao povo todos os tostões que podiam devolver alguma dignidade à sua vida, já de si, custosa.
Senhores gestores e representantes bancários, sinceramente, não acham isto tudo uma extorsão descarada? Ainda por cima vocês não roubam para comer. Vossas excelências saqueiam impunemente apenas para prolongar o estado de opulência em que se encontram.
Assim, também tenho milhões e milhões de lucro no final do ano. Assim, também eu pago afrontosas quantias para fazer anúncios publicitários, para patrocinar os três grandes clubes de futebol e para pagar os BMWs dos senhores directores.
Haja decência, por favor, haja alguma decência.