sexta-feira, março 04, 2005

Million Dollar Baby


De todas as vezes que vou ver um filme de Clint Eastwood desconfio. Talvez se trate de falta de fé, talvez porque já não acredite que ainda existem homens (e mulheres) que nos podem salvar deste descontrolo emocional em que vivemos. Lembro-me de Imperdoável, lembro-me de As Pontes de Madison County, lembro-me muito bem de Mystic River. Todas as vezes duvido que consiga fazer melhor, que consiga melhorar o que, à primeira vista, parece impossível de ser aperfeiçoado, em todas as vezes desconfio da grandeza do seu dom e em todas as vezes me cubro de vergonha. Ontem, não foi o constrangimento que encurvou o meu corpo e o fez observar de muito perto a incivilidade das minhas dúvidas. Ontem, tombei porque levei mesmo um soco no estômago. A lição deste homem, com 74 anos de idade, ficará num lugar especial do meu corpo (não só da mente, mas do corpo), porque, esse homem, essa criatura mítica, essa figura eterna do cinema contemporâneo, pegou no seu punho e enfiou-o sem «piedade» na minha barriga desamparada. Eu sei que Clint Eastwood lá deve ter os seus defeitos mas é muito difícil imaginá-los quando vemos este trabalho. Million Dollar Baby é um filme maravilhoso. Não há outra palavra que o descreva melhor. Não pode haver outra palavra que o publicite melhor. Ou então, se calhar, não devia existir palavra alguma para o definir e ser Million Dollar Baby uma única palavra que englobasse muitas outras: humildade, perdão, bondade, força, verdade, pena, inspiração, compromisso, responsabilidade, coragem, ânimo, sofrimento, dor, coração. Amor.