domingo, julho 10, 2005

O tempo a passar


Quando reparo nas datas nem acredito. Quase dois meses. Receio que se esgotou o engenho de enrolar palavras dentro de mim e de as mostrar aos outros, afoitas, em forma de sonoridade aprazível. Não tenho escrito, a não ser em ligeiros momentos do dia, em que construo duas ou três frases na minha cabeça para depois logo as arrumar à pressa, retomando a atenção devida aos obstáculos dentro da cidade. E o tempo passa. Há uma massa espessa que cobre o tempo e o encobre dos sentidos; e o tempo passa, anda como um assobio volvido ao céu, corre, e esquece a nossa pressa e a nossa vontade. Voa, multiplica-se, alastra-se; o tempo, às vezes, parece a mãe de todas as aves e retira de cada uma delas o seu olhar ágil sobre as estradas, sobre as terras lavradas, sobre os vales virgens, sobre os telhados cobertos de musgo e de silêncios, de temores. O tempo que me persegue e me afasta. Estes dias de verão, do regresso a casa, carregando na base do pescoço uma caixa cheia de cinza invisível. Quero escrever, quero escrever, quero muito escrever, todos os dias queria escrever, queria inventar palavras novas e queria apoderar-me desta ambição literária, torná-la hábito, convertê-la numa necessidade premente, drogar-me com os espaços entre as palavras, pegar nas vírgulas e nos acentos e injectá-los nos meus músculos, golpear o corpo, entranhar lá dentro muitas letras e deixar fermentar frases no ardor do meu sangue.
Mas o tempo passa e esquece. Institui-me a rotina. A bafienta marcha do tempo. Quantas vezes me lembro de reparar nele, de o puxar pelos braços, ou pelo tronco, e apoderar-me da sua turbulência. A ver se me lançava eu próprio numa voragem criativa que nunca exaurisse.

2 comentários:

Anónimo disse...

O tempo... Aquele inimigo que persegue o homem desde os seus primórdios e pelo qual nos vamos viajando esquecendo-nos, muitas vazes, que sem ele provavelmente nada existia. Está na hora de pegares nas canetas e nos teclados e começares a viajar nele. Pegar numa idéia, dar-lhe continuidade, enrola-la no tempo e... encaminha-la para um final! Tens todas as capacidades para seres o senhor do teu tempo. Amo-te.

Anónimo disse...

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